segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O FEMININO NA SOCIEDADE CELTA




O que sempre me encanta nos mitos e na história dos celtas são os freqüentes relatos sobre mulheres ruivas, altas, tão lindas quanto valentes, urrando gritos de guerras num campo de batalha, bradando suas próprias espadas ao lado de e contra homens tão fortes quanto elas.

Nas tribos celtas, as mulheres ocupavam posições tidas como essencialmente masculinas por civilizações vizinhas como a grega e romana. O fato de elas lutarem como guerreiras não anulavam a beleza e menos ainda a feminilidade da mulher celta. Ser guerreira era algo nobre, mas não impedia que esta mesma mulher fosse também sensual ou mãe, pelo contrário, a força e a delicadeza aliadas eram exatamente o seu diferencial, eram as características que faziam dela uma pessoa segura, intrépida e apaixonante. Existem várias facetas, muitas vezes contrastantes, que coabitam o mesmo espírito de uma mulher celta.

A história de Boudicca, rainha da tribo Iceni, comprova isso. Com a morte de seu marido, o rei Prasutagus, Boudicca passa a chefiar sua tribo que não estava nenhum pouco disposta a ceder ao domínio romano. Ao tentar resistir, Boudicca é capturada, açoitada e ainda obrigada a presenciar suas duas filhas serem estupradas por uma porção considerável de soldados romanos. Dignamente a rainha se retira dos domínios do inimigo com suas filhas jurando vingança. Com toda a fúria que somente uma mulher de espírito celta poderia ter, assumiu não só o controle dos Iceni, mas também da tribo vizinha, os Trinobantes. Juntos, varreram pelo menos dois povoados romanos na Grã-Bretanha, Camulodunum (atual Colchester) e Londiniun (atual Londres).
Os romanos só conseguiram vencer os destemidos guerreiros e guerreiros celtas após muitas batalhas sangrentas. Foram obrigados a criar novas estratégias e aumentar seus exércitos. A história registra que Boudicca preferiu a morte ao domínio romano e partiu para o outro mundo clamando por Andraste, a deusa celta invencível.
O conflito entre Boudicca e os romanos foi relatado em 2003 no filme "A Rainha da Era do Bronze". Uma excelente produção, mas infelizmente pouco conhecida pelo grande público no Brasil.
Um conceito marcante e recorrente na cultura celta é a relação intrínseca entre a soberania da Terra representada pela rainha de um povo. Quando os soldados romanos humilharam Boudicca e suas filhas, não era somente a honra delas que estava sendo duramente ferida, mas a honra de cada Iceni. Agredir física ou moralmente uma rainha era o mesmo que manchar a soberania da Terra.
A história de Boudicca me fez perceber que o que alimentava a coragem e ousadia da mulher celta era justamente o respeito e a confiança que o povo tinha na figura feminina. Arrisco afirmar que ela só conquistou várias vitórias sob os romanos por que sua tribo se deixou liderar por suas palavras e estratégias de coragem. Nenhum de seus guerreiros excitou em seguir uma mulher, como seria passível de acontecer em outras culturas já impregnadas de conceitos machistas.

Artigo escrito por Kiki Garcia, jornalista e membro-fundadora do "Caer Piratininga", primeiro Grove (Grupo Druídico) brasileiro afiliado à Druid Network International. Foi uma das mulheres participantes do Círculo 2006 do curso Espiritualidade Feminina (coordenado por Patrícia Fox)

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