O que sempre me encanta nos mitos e na história dos celtas
são os freqüentes relatos sobre mulheres ruivas, altas, tão lindas quanto
valentes, urrando gritos de guerras num campo de batalha, bradando suas
próprias espadas ao lado de e contra homens tão fortes quanto elas.
Nas tribos celtas, as mulheres ocupavam posições tidas como essencialmente
masculinas por civilizações vizinhas como a grega e romana. O fato de elas
lutarem como guerreiras não anulavam a beleza e menos ainda a feminilidade da
mulher celta. Ser guerreira era algo nobre, mas não impedia que esta mesma
mulher fosse também sensual ou mãe, pelo contrário, a força e a delicadeza
aliadas eram exatamente o seu diferencial, eram as características que faziam
dela uma pessoa segura, intrépida e apaixonante. Existem várias facetas, muitas
vezes contrastantes, que coabitam o mesmo espírito de uma mulher celta.
A história de Boudicca, rainha da tribo Iceni, comprova isso. Com a morte de
seu marido, o rei Prasutagus, Boudicca passa a chefiar sua tribo que não estava
nenhum pouco disposta a ceder ao domínio romano. Ao tentar resistir, Boudicca é
capturada, açoitada e ainda obrigada a presenciar suas duas filhas serem
estupradas por uma porção considerável de soldados romanos. Dignamente a rainha
se retira dos domínios do inimigo com suas filhas jurando vingança. Com toda a
fúria que somente uma mulher de espírito celta poderia ter, assumiu não só o
controle dos Iceni, mas também da tribo vizinha, os Trinobantes. Juntos,
varreram pelo menos dois povoados romanos na Grã-Bretanha, Camulodunum (atual
Colchester) e Londiniun (atual Londres).
Os romanos só conseguiram vencer os destemidos guerreiros e guerreiros celtas
após muitas batalhas sangrentas. Foram obrigados a criar novas estratégias e
aumentar seus exércitos. A história registra que Boudicca preferiu a morte ao
domínio romano e partiu para o outro mundo clamando por Andraste, a deusa celta
invencível.
O conflito entre Boudicca e os romanos foi relatado em 2003 no filme "A
Rainha da Era do Bronze". Uma excelente produção, mas infelizmente pouco
conhecida pelo grande público no Brasil.
Um conceito marcante e recorrente na cultura celta é a relação intrínseca entre
a soberania da Terra representada pela rainha de um povo. Quando os soldados
romanos humilharam Boudicca e suas filhas, não era somente a honra delas que
estava sendo duramente ferida, mas a honra de cada Iceni. Agredir física ou
moralmente uma rainha era o mesmo que manchar a soberania da Terra.
A história de Boudicca me fez perceber que o que alimentava a coragem e ousadia
da mulher celta era justamente o respeito e a confiança que o povo tinha na
figura feminina. Arrisco afirmar que ela só conquistou várias vitórias sob os
romanos por que sua tribo se deixou liderar por suas palavras e estratégias de
coragem. Nenhum de seus guerreiros excitou em seguir uma mulher, como seria
passível de acontecer em outras culturas já impregnadas de conceitos machistas.
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